Não me sinto incomodado com a crítica, mas com a cobardia dos argumentos daqueles que ousam manter tudo na mesma, para poderem levar o andor e ficarem com a bola, mesmo que isso signifique a solidão e o autismo político.
Não tinha pensado voltar a este tema das eleições do PS, mas faço-o, porque me sinto um livre pensador, não hipotecado a qualquer clube de bairro ou de sindicato de voto, porque assumo em consciência as minhas opções políticas e pessoais, porque valho por aquilo sou e não porque vou tomar café ou jantar com este ou aquele. Muitos militantes do PS telefonaram-me a elogiarem a crónica, “A hora da mudança”, mas com um pedido inquietante: não digas a ninguém que te telefonei. Há uma atmosfera ameaçadora que tenta silenciar as vozes desalinhadas com a “candidatura do aparelho”. Será nervosismo ou insegurança? Talvez as duas coisas. É insegurança porque há a percepção da revolta silenciosa dos militantes e a consequente penalização com o voto. É nervosismo, ou melhor, ansiedade porque a leitura antecipada dos seus argumentos tem sido sistematicamente posta em causa. Os dias que se seguem vão ser decisivos, os dias derradeiros de campanha vão servir para confirmarmos que só é possível mudar o PS, em Coimbra, se mudarmos as pessoas, se formos capazes de apresentar argumentos credibilizantes e sem receios de rupturas clarificadoras. Não é possível continuarmos a aceitar a lei da rolha, do medo, do embuste, do faz de conta, do silêncio cúmplice. Não adiante soprar para um balão que já não sobe, que já não nos permite sonhar, que já não nos motiva, que já não nos empolga, que já não tem sentido. Não adianta soprar para um balão que gastou a novidade e a convicção.
Dedico este artigo aos “críticos” que ainda não leram “Sobre a verdade e a mentira”, de Nietzsche.
António Vilhena
Artigo publicado no Diário de Coimbra - 09/10/2008
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