quinta-feira, 23 de outubro de 2008

“Contra Salazar”

Salazar é um nome incontornável do mundo editorial. Muitos têm sido os títulos vindos a público nos últimos tempos, quase todos, envergonhadamente, branqueando as suas políticas e aligeirando a sua responsabilidade pessoal no regime fascista que terminou a 25 de Abril de 1974. É verdade que a vida do ditador, resguardada dos olhares indiscretos, potencia, ainda hoje, imensa curiosidade e, por isso, aparecem livros sobre os vinhos, o alfaiate, o sapateiro, as meias brancas, a música, o fotógrafo, a D. Maria, governanta e fiel como os cães, os marmelos e outras guloseimas, tudo em livros de capas duras e muito cuidadas, a condizer com o respeitinho que o ditador infundia. Mas a verdade é que Salazar era um ditador fascista, inteligente e com voz de comando que decapitava todos os que ousavam pensar para além dos limites do regime. Muitos foram os portugueses que pagaram com a própria vida o terem discordado, resistido e combatido pela liberdade.
A “Revolução Nacional”, 28 de Maio de 1926, alimentou a esperança de muitos portugueses, mas rapidamente se esfumou com a queda da máscara do ditador. Fernando Pessoa foi um desses portugueses que alimentou alguma esperança, mas rapidamente percebeu que o lente de Coimbra, muito embora a visibilidade que granjeou como titular das finanças públicas, era um imitador dos regimes totalitários europeus. Fernando Pessoa confirmou que o Estado Novo era a máquina da intolerância ao serviço de Oliveira Salazar. Para isso, muito terão contribuído, em 1935, dois acontecimentos: “a aprovação, pela Assembleia Nacional, de um projecto de lei, apresentado pelo deputado José Cabral, proibindo as Sociedades Secretas (como a Maçonaria) e a intervenção do Presidente do Conselho de Ministros na cerimónia de atribuição dos Prémios do Secretariado da Propaganda Nacional, em que a “Mensagem” foi um dos livros distinguidos”. A resposta de Fernando Pessoa, ao projecto de José Cabral, surgiu num violentíssimo artigo, intitulado “Sociedades Secretas” , publicado no “Diário de Lisboa”.
“Contra Salazar” é o título de um livro, que reúne tudo o que Fernando Pessoa escreveu contra Salazar; é um trabalho do Prof. Doutor António Apolinário Loureço, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e será apresentado no próximo sábado, dia 25 de Outubro de 2008, na Livraria Almedina, pelo escritor e Ex-Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano, Dr. António Arnaut. Um livro a não perder e de leitura obrigatória.
Deste livro recordo uma passagem de um artigo de Fernando Pessoa que poderia ter outras leituras nalguns contextos que hoje vivemos: “Há três maneiras de ser situacionista, isto é, de ser partidário de qualquer situação política. A primeira é a conformidade por doutrina; a segunda a conformidade por aceitação; a terceira a conformidade por não-oposição. Deixo de parte uma das mais vulgares – a conformidade por vantagem -, porque não é disso que se trata, pelo menos em mim”.
Esta citação de Fernando Pessoa traz-me à memória as eleições para a Federação do Partido Socialista de Coimbra, que vão realizar-se no próximo sábado, dia 25 de Outubro. A candidatura de Mário Ruivo realizou, a semana passada, um grandioso jantar, com mais de mil militantes vindos de todo o Distrito. Foi um verdadeiro grito de liberdade e uma grande manifestação de desejo de mudança. Hoje, sabe-se que muitos militantes vão votar contra a situação, contra a decadência, contra o conformismo, contra as leis da aritmética e do calculismo político, contra aqueles que tendo responsabilidades geracionais se rendem aos “Velhos do Restelo”. Por isso, vão votar em Mário Ruivo, na LISTA A. Sejam ousados, sejam capazes de mudar, sejam livres e corajosos. Façam história, digam não como Fernando Pessoa!

António Vilhena
In: Diário de Coimbra - 23/10/2008

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