terça-feira, 11 de novembro de 2008

Último Acto - Discurso XIII Congresso

Caros e caras Camaradas,

Deixem me começar por cumprimentar todos os congressistas presentes e saudar este grande momento de convívio e participação socialista. Concluímos hoje aqui mais um processo de afirmação do Partido Socialista como uma estrutura em permanente reflexão e mutação.

Se havia quem pensasse que o Partido não tinha capacidade de mobilização, que estava em coma e que não era possível afirmar diferenças de projectos e protagonistas, enganou-se.

O Partido Socialista é o maior partido da sociedade portuguesa e isso vê-se aqui neste Congresso com perto de 700 delegados eleitos por todas as concelhias e secções sectoriais do Distrito de Coimbra. Conseguir reunir num congresso distrital tão elevado número de participantes é uma tarefa só possível num partido vivo e actuante. Conseguir mobilizar os militantes para uma participação eleitoral superior a 50% é algo que deve merecer o nosso verdadeiro aplauso.

Quanta emoção vivemos nesse sábado de Outubro.

E sentimos todos um orgulho imenso por conseguirmos demonstrar a todos aqueles que nos criticam, e que são críticos dos partidos políticos, como só um partido como o nosso conseguia mobilizar em alguns concelhos um eleitorado activo, que nalguns locais atingiu valores superiores a 75 %.

É pois para todos vocês a minha primeira saudação. Por terem sabido dizer presente quando foram chamados a participar.

A segunda é obviamente para o novo presidente da Federação. Meu caro Victor Batista, os meus sinceros cumprimentos e públicos parabéns pelo excelente resultado que conseguiste obter, o que prova a tua enorme capacidade de trabalho e a tua grande sagacidade politico-estrategica. Não é fácil essa função e muito menos quando se tem já dois mandatos. Mas soubeste encontrar capacidade e força para derrotar um projecto diferente para o partido que eu protagonizava. Conseguiste ser mais convincente. E tiveste o apoio de todos aqueles que te reconheceram mérito, liderança e qualidade política, para além de uma forte ligação a Lisboa.

Reconheço que não partilho contigo a importância de estar em Lisboa para o desempenho do cargo de Presidente da Federação Distrital de Coimbra, particularmente quando se aproximam actos eleitorais sucessivos em 2009. É que essa tua presença na Assembleia da República vai exigir de ti um enorme esforço para conseguires acompanhar em permanência as movimentações próprias dessas alturas. Mas sei que saberás responder à altura e que conseguirás conciliar a tua intensa actividade parlamentar com esses momentos eleitorais.

Concluído o nosso processo eleitoral é evidente que poderás contar com a unidade desta grande família socialista para te ajudar nessa difícil missão. Nem passaria pela cabeça de ninguém que assim não fosse. Uma unidade que é apanágio do partido socialista, sem reservas, com contributos positivos de todos, sem divisões e sem… piriquitos (que como sabes com 3 is é nome próprio). Recordo-te esse texto porque ele não deve, nem pode repetir-se.

Precisamos de estar verdadeiramente unidos para comemorarmos vitórias nos próximos actos eleitorais que se avizinham. De mim podes esperar solidariedade política e unidade na nossa afirmação política externa e na construção de projectos políticos vencedores, de projectos que nos afirmem na sociedade extra-partidária e que possam transformar o PS de Coimbra como o partido com mais autarquias no Distrito e com resultados eleitorais que sejam o nosso orgulho nas eleições para o Parlamento Europeu e para as Legislativas.

Espero reciprocidade na construção dessa unidade e nessa vontade. Somos, eu e os que comigo estiveram neste processo eleitoral, militantes responsáveis. Temos sentido de serviço ao partido e ao país, acreditamos que os processos eleitorais são afirmações de projectos políticos alternativos e não disputas pessoais; Acreditamos na pluralidade de opiniões e na crítica como contributo positivo do debate político, rejeitamos o pensamento único e a atitude sancionatória ou repressiva sobre aqueles que pensam diferente; Temos do poder uma visão desapegada porque só o entendemos como verdadeiro quando ele reflecte a legitimidade do processo eleitoral e corresponde à realidade da vontade colectiva tomada conscientemente. E olhamos cada militante do nosso partido como nosso camarada, como nosso irmão, a quem devemos real solidariedade e respeitamos o seu direito de nos exigir responsabilidades pelos cargos que exercemos em nome deles.

Sei, direi mesmo, estou seguro, meu caro Victor que esta tua eleição para Presidente de todos nós socialistas de Coimbra não deixará de ter isso em consideração, porque essa é minha convicção. Quero, claramente e sem reservas afirmar que és o meu Presidente de Federação. E que serei sempre e apenas um militante mais da comissão política que estará solidário contigo nas decisões legitimas e participadas que tomares. Até porque cada mandato é um momento novo. Um momento de construção de um futuro diferente. Um momento em que se melhora o que está bem e se corrige o que se fez mal, convicta ou inconscientemente.

Eu confesso que o anterior Presidente da Federação não me era muito simpático. Até te confidencio que ele também não gostava lá muito de mim. Eu nunca entendi porquê. E ainda hoje não consigo entender uma só razão pessoal para ele não gostar de mim. Política até entendia. Agora vê se entendes alguma lógica em colocar uma questão política e legítima de pensamento numa questão de carácter pessoal? De tal forma que o seu objectivo público era tão eticamente condenável que coro de pudor só em pensar e o respeito pelo Presidente agora eleito me impede de divulgar. Se tiveres com ele, faz o favor de lhe dizer que esteve mal aí e que esses comportamentos geram outros comportamentos e provocam divisões graves no partido e tornam a construção da unidade uma tarefa complexa e dolorosa.

E não me esqueço a última que ele me fez quando ainda se metamorfoseava nesse homem novo que espero encontrar no novo Presidente da Federação. Aquela de sem dizer nada e a poucos dias do acto eleitoral ir requerer a redução de todas as quotas para um euro, com retroactividade. Essa medida de excepção para Coimbra e que não foi alargada aos actos eleitorais de outras federações mereceu o meu aplauso e podia ter sido acordada a dois e validada pela organização. Mas quis fazer tudo sozinho. A solidariedade como sabes é a minha vocação pelo que não deixaria de concordar com tal proposta em benefício dos militantes do nosso distrito. Até porque sei que depois disso o tal Presidente não deixaria de ajudar todos os que precisam de as ver pagas. Mas tenho a certeza de que contigo a Presidente isso não se repetirá.

Por mim esse passado está enterrado. Custa claro esquecer algumas coisas. Algumas nem vale a pena falar nelas porque não nos dignificam. Estivemos mal. Em algumas situações muito mal. Claro que não me excluo e reconheço alguns momentos menos felizes, mas no deve e haver acredito-me credor. Por todos eles, e pela necessidade de definitivamente unir esta grande família socialista de Coimbra, devemos assumir o compromisso de sermos diferentes e de não se voltarem a repetir actos e comportamentos semelhantes.

Com todos os camaradas que por esta ou aquela razão divergirem de nós façamos algo tão simples e que custa tão pouco: discordemos mas respeitemos. E estejamos unidos no que é verdadeiramente essencial. A afirmação do projecto socialista.

Está pois aqui dado o meu contributo para a unidade. Para que seja possível reviver o partido socialista que motivou a minha adesão e a minha determinação em o servir. Se havia alguma preocupação quanto a essa vontade ela que fique aqui afastada definitivamente. Com a transparência e segurança de quem no momento certo não teve a mínima dúvida em afirmar a sua crítica e a sua diferença. Com a legitimidade que daí lhe advém e que é a mesma que lhe permitirá sempre ser construtivamente crítico quando divergir.

E aqui deixo a minha visão sobre o que deve ser o futuro do PS em Coimbra, e que deve ser acrescentado ao que atrás refiro.

Os partidos políticos são hoje olhados com desconfiança pelos cidadãos, o que deve merecer de nós todos uma profunda e intensa reflexão. Não enterremos a cabeça na areia. Há uma manobra invisível que visa a sua descredibilização à qual nós não temos sabido contrariar e, nalguns casos, temos contribuído involuntariamente para essa imagem. É por isso necessário e urgente desenvolver uma actividade política mais aberta aos não militantes, sem receio e com vontade de percepcionar as suas reais preocupações. Temos de ser capazes de ir ao encontro deles e não nos fecharmos entre quatro paredes das nossas sedes. É no confronto de ideias que nós temos condições de os convencer e mobilizar para o nosso projecto político e não isolando-nos deles.

Mas para isso precisamos de reflectir também sobre a nossa postura e sobre a necessidade de desenvolvermos comportamentos eticamente inatacáveis, termos a preocupação de ouvir e resolver as angústias do eleitorado e criarmos com ele uma relação de afectividade real e não mascarada. Os cidadãos esperam de nós a defesa de projectos e dos que exercem funções públicas sentido de serviço público. E nós devemos satisfazer essas exigências porque só existimos se eles confiarem que somos capazes, que somos melhores, que somos a solução e não o problema.

Para isso apelo aos nossos camaradas e aos que vão conduzir os destinos da federação para uma verdadeira preocupação com este real problema. O da credibilização dos partidos políticos e, no caso que nos importa, o da preocupação com a nossa credibilização.

Temos de ser capazes de fazer debate político. Abrirmos aos militantes a possibilidade de afirmarem as suas ideias, os seus sonhos, as suas angústias. E podíamos ter começado isso aqui. Não faz sentido que um Congresso Federativo tenha uma duração de um dia. Recordo que há alguns anos atrás, daqueles que me lembro e tenho saudades, os congressos federativos eram em 3 dias. Passaram a ser em dois. E estamos num dia. Como potenciar novos valores, como promover o debate político se o tempo é curto e as intervenções limitadas. Não estou a discutir factos consumados. Este será assim. Ponto. Mas pensemos os próximos de forma diferente e comecemos por lançar esse movimento realizando as comissões políticas estatutariamente previstas e dando espaço ao debate. É uma recomendação que aqui te lanço, caro Presidente.

Temos também de rapidamente desenvolver o processo de selecção dos nossos candidatos autárquicos principalmente nos concelhos em que somos a oposição. Já começa a ser tarde para se fazer esse trabalho e não encontro razões para não estarem já definidas nas comissões políticas concelhias as datas de apresentação dos candidatos. Durante o nosso processo eleitoral para a Federação foi consensual entre ambos os candidatos a autonomia das Comissões Politicas Concelhias na escolha dos candidatos às autarquias. Pelo que o acto eleitoral para a federação não pode ser o motivo de tal indefinição. Hão-de existir em cada concelho boas opções para nos darem vitórias. As concelhias devem fazer as suas escolhas com o objectivo de vencer pelo que se deve escolher o melhor candidato. E concelhos há em que os Presidentes das Concelhias têm condições de protagonizarem essas candidaturas se estiverem com dificuldades em encontrar um perfil ganhador. Mas a cada concelho a sua decisão, com a lógica de que nenhum calculismo pessoal pode sobrepor se ao interesse colectivo.

Seguindo aquela que era nossa moção e objectivo, as escolhas de deputados devem ser votadas em processo aberto e plural, com critérios regionais de distribuição dos representantes para que se possa fazer uma ligação mais estreita entre o deputado e os que os escolhem. Aliás a proposta de revisão da lei eleitoral do PS vai ainda mais longe nessa visão de estreitamento da relação entre o eleito e o eleitor pelo que esta nossa proposta se encaixa nos movimentos modernos do nosso partido socialista. Saudando a hipótese de círculos serem regionais, não deixa também de merecer a nossa reflexão e a provável preocupação de muitos, que não minha, a redução para mais de metade do número de deputados no nosso círculo eleitoral.

Quero estar solidário com aquela que penso ser a vontade do nosso novo Presidente da Federação e reclamar o direito do nosso Distrito continuar a ter um deputado no Parlamento Europeu. Temos uma tradição e uma história de excelentes eurodeputados. Mas aí deixo a tarefa ao meu caro Victor Batista, sabendo que pode contar com o apoio de toda a Distrital na escolha do nosso representante.

Para o fim deixei uma palavra para o nosso Secretário-geral e Primeiro-ministro. Quero dizer-lhe que temos sentido orgulho em fazermos parte de um partido que tem sabido assumir as reformas que o País necessita e que tem revelado uma permanente preocupação com as políticas sociais e com o reforço e qualificação dos equipamentos que estão ao serviço dos que mais necessitam.

Aqui de Coimbra fica a mensagem que a unidade será construída na diversidade e com a vontade de ambas as partes em construí-la, porque é dever democrático de quem perde aceitar sem mágoa ou azedume os resultados e saudar os vencedores como é dever democrático de quem vence respeitar a divergência de posições e opiniões dos que perderam, aceitando a diversidade e construindo num dialogo aberto e responsável um partido mais forte, mais coeso e mais solidário.

Viva o PS

Viva a Federação de Coimbra

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