sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Assumir a diferença e recuperar a credibilidade


O Partido Socialista afirmou-se, na sociedade portuguesa, como o seu partido estruturante, aquele que contribuiu decisivamente para a implantação de um Estado Democrático, para a inserção de Portugal na Europa e para a sua afirmação no espaço global.
Desde a sua fundação, assumiu-se sempre como um partido de bases, de todos os estratos sociais, tolerante e plural nas suas divergências. Um partido cujos militantes souberam sempre, nos momentos certos, encontrar os protagonistas adequados para a concretização do seu projecto político.
Porém, nos últimos tempos, tem-se acentuado uma crescente crítica à forma como o Partido Socialista no Distrito tem desenvolvido a sua intervenção política, pautada por uma completa ausência de projecto, divorciado da sociedade civil e evitando sistematicamente um debate plural entre todos os militantes.

Por ser assim importa parar para pensar – pensar diferente, decidir diferente, agir em conformidade.

A política é a ciência que governa os povos. Torna-se necessário assumir a capacidade de a fazer regressar à sua nobre condição de servir. Perseguir esse objectivo é um imperativo. Importa torná-la perceptível a todos os cidadãos, apelando à sua consciência cívica. Paralelamente, torna-se imperioso que os membros dos partidos políticos se assumam como activistas de causas e não como representantes de interesses.
Ao Partido Socialista importa que avoque os valores republicanos cuja génese assenta na defesa dos interesses comuns e na promoção das causas públicas, fazendo evoluir o fulanismo militante das suas práticas para o protagonismo activista das suas intervenções. Assim, devemos obrigar-nos a promover a politica como essência democrática da vida dos povos, acentuando assim as diferenças matriciais do Partido no que concerne à sociedade portuguesa.
As estruturas partidárias e os seus órgãos dirigentes, sejam eles quais forem, são uma emanação do seu todo, como modelo ideológico, pelo que faz sentido, que as suas propostas apresentem um conteúdo programático que se pretendam ajustadas, coerentes e realistas porque só assim recolhem a adesão geral.
As Federações Distritais, enquanto a desejada regionalização não chega, devem ser as estruturas, por excelência, onde homens e mulheres exercem a militância activa e plural, patrocinam o estudo e o debate e na preposição das acções concernentes ao desenvolvimento harmonioso do País.
Para tal, há que potenciar a pluralidade das sensibilidades e dos saberes dos seus militantes em todos os seus cargos e competências, fazendo-os integrar no órgãos federativos e, em simultâneo, abrir aos cidadãos a participação nas soluções a propor.
O Distrito de Coimbra é um universo de 17 Municípios do mais diversificado possível, um microcosmo de situações, cada um com as suas estruturas políticas próprias, onde os militantes não podem, nem devem, viver afastados da intervenção política do Partido.
Um socialista é um activista local que com o seu pensamento, o seu saber e as suas disponibilidades intervêm na comunidade.
Ao não se considerar a diferença existente entre eles, a lógica imperante de tratamentos iguais para situações diferenciadas, acentuou desigualdades e os resultados estão à vista com o crescente desencanto e alheamento. A manter-se este quadro, as disparidades poderão persistir ou mesmo aumentar e esse é o desafio para o qual todos somos chamados a intervir.
Não é possível promover o envolvimento activo dos militantes sem que sejam criadas as condições para que todos sejam chamados a participar no debate político, nas escolhas dos agentes locais e no respeito pelo seu trabalho diário de intervenção comunitária.
É, pois, uma Federação nova que o Distrito precisa e que a politica distrital reclama. O espaço e o tempo gasto com o fulanismo e o desvirtuar da praxis deve dar lugar à Cidadania,no legado de Miguel Torga, Fernando Valle e Fausto Correia e que a modernidade reclama.
Uma Federação de Coimbra em que o PS seja representativo das suas bases, participativo, desconcentrado e descentralizado, emanado do interesse geral. A um Partido dependente de poderes pessoais deve dar lugar um Partido de estruturas, onde não existam receios fúteis ou não se submetam estratégias de interesse colectivo, vencedoras, a lógicas de poderes individuais, perdedoras.
Acredito que Coimbra, como ocorre no País, também sentirá a necessidade dessa ruptura e de se rever no novo paradigma do exercício do poder político. Um poder para servir as populações, ético, livre, plural,rigoroso e solidário. Porque um partido não é pertença de ninguém. Ele representa a vontade de todos os militantes livres e esclarecidos que aí crescerão no combate às desigualdades, à opressão e ao abuso do poder.
Mais do que a crítica pública e inconsequente, junto a minha voz a todos aqueles que sentem orgulho no Partido Socialista e, conscientemente, assumem os desafios que as circunstâncias exigem. Daí, a minha completa afirmação para participar num projecto político regenerador que tenha sempre em conta as causas públicas e que seja congregador da opinião plural dos seus militantes.
Importa que a verdade da política seja a verdade da vida dos homens e das mulheres; importa que os problemas das pessoas sejam vistos pelos políticos como inquietação pública e séria.

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